quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

A morte

Quando eu era criança achava que morrer era apenas deixar de existir materialmente.
Nunca tinha conhecido a morte de verdade, das pessoas que eu tinha na minha vida, nenhuma delas havia morrido, ou se morreram eu não tinha uma ligação tão forte com elas o bastante que me fizesse ter consciência do que era a morte.

A medida de que fui crescendo, eu fui percebendo os sentidos da morte... Hoje entendo que há vários tipos de morte...

Comecei a notar a morte quando perdi meu avô, ele era 1ª pessoa mais importante da minha vida, foi ele quem me ensinou a andar, a falar, a ler, a contar dinheiro, ver as horas, andar de bicicleta... eu sempre fui uma criança avançada e devo isso a ele, aos três anos de idade eu já sabia contar, andar de bicicletas e ver as horas, aos 4 já sabia ler e escrever, eu lia o jornal o globo todos os dias. Aprendi coisas incríveis com meu avô!Quando ele morreu, foi o meu primeiro encontro com a morte...

 Foi então que me dei conta de quantas pessoas já haviam morrido sem que eu tivesse notado, e chorei. Um amigo meu também havia morrido e eu também senti, mas foi diferente, porque ali, eu ouvi falar na morte e no caso do meu avô ela veio até mim pessoalmente anunciar que eu nunca mais veria aquela pessoa que eu amava tanto.


Com passar do tempo, analisando a morte, tive a certeza que a morte tem suas varias faces. Refletindo, tive a noção de que muitas pessoas já haviam morrido para mim, não necessariamente materialmente. As magoas, as decepções, as injurias, vão matando de nossas vidas, certas pessoas, e esse tipo de morte pode doer mais. Pessoas que causam dores tão profundas que nossa alma prefere assassiná-las da nossa mente, do nosso coração!

A morte física traz sim um grande sofrimento, mas ela é a maior certeza da vida, a certeza de que um dia deixaremos de existir, totalmente diferente da morte sentimental, essa deixa buracos profundos. A morte sentimental consiste em nada mais nada menos, excluirmos de nossas vidas, pessoas, hábitos ou coisas que nos fazem mal! Mas vamos falar de pessoas. Por mais que nosso ego, nossa alma e nosso coração tente esconder, no fundo sentimos e muito, quando declaramos: “Fulano morreu para mim!”
A exclusão sentimental dessa pessoa em nossas vidas pode trazer grandes benefícios, porem a dor da morte sentimental é inenarrável, porque saber que não haverá mais contato, seja ele físico ou sentimental de uma pessoa que materialmente está viva é bem pior do que conforma-se com a natureza humana da morte, a qual é uma necessidade vital eterna, todos morrerão um dia! Mas a morte sentimental é uma doença sem cura que levamos dentro de nós e que nem sempre mostra seus sintomas.

A existência de possibilidades inerentes a morte sentimental é um fato de tudo o que poderia ter sido e não foi. Poderia ter sido diferente, mas infelizmente a situação chegou a um nível tão insuportável em que é necessário “matar” a existência daquela pessoa em nossas vidas.

Depois que parei e pensei no assunto, vi quantas pessoas já haviam morrido para mim.
E o quanto isso me doeu e dói por muitas vezes. A necessidade de imposição pessoal as vezes nos leva a ter a morte sentimental como a principal saída que nem sempre é louvável mas funciona na maioria dos casos. Quantas pessoas já morreram em sua vida? A única vantagem da morte sentimental é que para ela há uma esperança de sobrevivência e de ressurreição em alguns casos!

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